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Foto do escritorEsther De Souza Alferino

Eu me perdoo, mas...

Acho que o mundo talvez se divida em dois tipos de pessoas: as que têm muita dificuldade em se perdoarem, e as que não se imputam culpa por basicamente nada. Na minha visãozinha limitada de mundo, os dois tipos são igualmente doentes.

Acho que nem precisa falar sobre os problemas, as consequências graves, da falta de autoperdão, e não vou falar mesmo, quero falar de umas outras coisas aqui.

Eu uso muito as redes sociais, uso bastante mesmo, e não sou, nem de longe, aquele tipo de pessoa que acha que precisa de um “””detox””” digital, até porque, desintoxicação pra mim é coisa séria e tem outro significado. Enfim. Olho Facebook e Instagram à beça, e as pessoas compartilham (pessoas, tipo eu também), cada vez mais coisas que já vem prontas, tipo memes, prints de tweets e coisas do gênero. Faço muito isso, super prático inclusive, quando alguém te contempla em um e tweet você só posta, nem carece legenda. Dentre essas coisas que o povo anda amando compartilhar, existem várias frases prontas, e algumas de efeito, sobre perdoar a si mesmo. Não tenho certeza agora, mas é muito provável que eu mesma já tenha compartilhado algo do tipo.

“Perdoe-se, você não tinha a maturidade de hoje”, “Aprenda a se perdoar, a mulher/homem que você foi te ensinou a ser quem você é”, Perdoe-se, você aprendeu com seus erros”. Aprendeu mesmo?

Acho que sim, temos que falar em autoperdão e, mais que isso, praticar, só não dá pra usar isso como aval pra ser um bosta. Ficar falando em se perdoar e manter exatamente as mesmas práticas, cagar na cabeça dos outros exatamente como no passado, cometer de novo os mesmos erros (especialmente os que afetam outras pessoas) e viver em looping eterno de que você fez porque não tem a maturidade necessária é feio, muito feio.

Sim, fiquei doida de vez e estou problematizando até mesmo o autoperdão, e sim, fiquei tão, mas tão doida, que fico pensando muito nisso (sozinha com meus botões), pelo viés de classe. A quem é permitido ficar errando toda hora por ser apenas um jovem imaturo? A quem é dado o benefício de se corrigir, de fazer melhor na próxima? Quem pode se dar o luxo de cagar no pau com a vida alheia, com o trabalho, fazer merda atrás de merda, e ir pra análise aprender a se perdoar?

Estou falando do alto dos meus privilégios brancos, e de mais tantos outros que nem dá pra listar aqui, mas ainda assim, para pessoas que vieram de onde eu vim, não existem assim tantas chances de errar e poder começar de novo, e, ainda por cima, perdoado por si mesmo, não. Agora pensa em quem vive de fato uma vida desprivilegiada, só pensa.

Autoperdão, além de ser privilégio, e PRECISAR ser lido como privilégio por quem o busca, não pode ser passe livre pra infantilidade em adulto, pra falta de responsabilidade emocional, pra preguiça, mau-caratismo, talaricagem (se não sabe o que é, dá um google), e, mais que tudo, pra ver o tempo passar sendo exatamente a mesma pessoa, com as mesmas atitudes de bosta, se autoperdoando pra sempre.

Eu me perdoo sim, ou, ao menos tento me perdoar, mas só no que eu busco não repetir, nas feridas alheias que eu busco não voltar a infringir, nas merdas que eu tento não refazer, na falta de responsabilidade que eu nunca mais quero ter. Meu autoperdão não pode ser minha carteirinha de pessoa merda, porém em estado permanente de evolução, que nunca chega, mas que está ali, validado no discurso raso das frases postadas no Instagram. Eu me perdoo sim, mas eu preciso entender que isso é um privilégio, que muita gente não tem e nem nunca vai ter. Eu não vou me perdoar pra sempre pelos mesmos erros, eu seria

uma grande babaca se fizesse.

P.S.: Eu não sei se autoperdão se escreve junto ou separado, e escrevi tudo assim, se estiver errado, não me perdoem, foi por pura preguiça de procurar fazer o certo.

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