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  • Foto do escritorEsther De Souza Alferino

Elas que lutem

Dia dessas Obama disse que “ Se as mulheres governassem todos os países, o mundo seria melhor”. Ok, tudo bem, Obama está em campanha pra Hillary Clinton, mas jura que ele mandou essa? A história

não mente e está cheia de exemplos de péssimas mulheres que detiveram o poder e fizeram o único uso que lhes cabia, o péssimo uso.

Mulheres também são péssimas, gente. Não são uma casta superior. Nem inferior. É óbvio que a baixa participação feminina na política, e seus muitos motivos, que estão diretamente ligados com a estrutura patriarcal que ainda nos quer fora do espaço público, devem ser amplamente debatidos, pensados, estudados, e a reivindicação por maior participação não é apenas direito, é necessidade.

Mas não vamos romantizar a figura feminina como se fosse uma fonte eterna de bom senso, amor, força ancestral (ou sei lá que nome dão pra isso), justiça e sei lá mais o quê, porque desse modo a gente entra na mesma lógica misógina de que mulheres são seres angelicais, nascidas pra serem mães e desprovidas de qualquer autoridade. Mulheres não são essencialmente nada, não são algo (bom ou ruim) por natureza, não são seres místicos ou representação de divindades. São pessoas, seres humanos, carne, osso, moralidade, caráter, ou falta de.

Quando lembro dessa frase do Obama só consigo pensar em Margareth Thatcher, Maria – a sanguinária, Catarina de Médici, e mais um monte de exemplos que eu poderia citar, inclusive as senhoras de escravos aqui mesmo, da região onde eu vivo, uma delas assassinada por suas escravas de casa, Donana Pimenta, dá nome a um bairro, mas as mulheres que a serviam preferiam enfrentar o que fosse, a continuar vivendo sob a crueldade da fina dama da sociedade, que deixou parte de seus bens pra caridade, pra Igreja, onde era fervorosa fiel. Ela foi a personificação da elite brasileira que tem uma chibata ensanguentada em uma mão, e um terço na outra.

É possível pensar que basta ser mulher pra fazer o mundo melhor? Campanha política à parte, é de uma desonestidade intelectual, e é misógino também, nos colocar nesse lugar de salvadoras do mundo, porque claro, naturalmente nascemos com os instintos e valores certos pra isso.

O que mais me dói é ver gente progressista, mulher feminista, cair nessa. NÃO SOMOS TODAS IRMÃS, NÃO SOMOS MESMO, e isso nunca vai mudar. Não dá pra ser irmã da patroa cruel, exploradora, que tem nojo de pobre, e humilha as mulheres que a servem, ainda que o machismo também a atinja, atinge de formas tão diferentes, tão distintas, inclusive os recursos materiais e até mesmo psicológicos pra sair de situações de abuso são tão diferentes das mulheres que esse tipo de mulher explora, que me perdoe a galera da sororidade acima de tudo, eu não sou capaz de ter.

Peço licença à patrulha da sororidade pra me permitir não sentir nada quando a Luciana Gimenez, defensora do atual governo, da reforma da previdência, que significa a morte à mingua de um monte de gente pobre, é chamada de vários nomes porque teve filho com o Mick Jagger. Também não sinto nada quando chamam Marcela Temer ou Michele Bolsonaro de cuidadoras de idosos, por terem se casado com homens com idade pra serem seus avós. Me dou o direito de não problematizar os trabalhadores ingleses indo às ruas festejar a morte de Margareth Thatcher, que massacrou sindicatos, destruiu direitos, mandou os filhos dos outros pra guerra. Eu tô bem de boa com a reação de pessoas oprimidas diante dos seus opressores. E digo mais. Pra mim, essa sororidade absoluta, que vem acima de tudo, tem uma questão séria, seríssima de classe, que às vezes mulheres muito bem intencionadas não percebem, e é difícil pra elas perceber, porque a classe impõe limites, por mais que a pessoa tenha boas intenções, a classe sempre vai impor limites.

Sou mulher, feminista, mas pra mim a classe vem antes. Podem me chamar de anti-identitária, ou do que quiserem, eu tenho minhas questões com o identitarismo mesmo, então podem jogar as pedras, porque talvez eu mereça cada uma delas.

Entre um homem, pobre, fudido, sofrendo debaixo da unha de uma mulher rica, altamente privilegiada, é muito pouco provável que eu esteja do lado dessa mulher. É muito pouco provável que ela me represente de alguma forma, é muito pouco provável que minha empatia, em um caso assim, seja pelo gênero.

As Lucianas Gimenez, as Hillarys, as Micheles e Marcelas, as Joices e Damares, não precisam de mim, do meu apoio, da minha sororidade. Eu tampouco estou disposta a lhes dar isso. No fim, elas sempre desprezam. Elas representam tudo contra o que luto, e o fato de terem vaginas não faz diferença alguma pra mim. Podem caçar minha carteirinha de feminista.

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