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  • Foto do escritorEsther De Souza Alferino

A culpa é da renovação ou: o desastre da "nova" política


Nas eleições de 2018 aqui no estado do Rio surgiu um sujeito do nada, mas foi do nada mesmo, foi pro segundo turno e se tornou governador do estado. O cara era “ex-juiz”, um termo super estranho, porque afinal, quem abandona a magistratura com toda sua mordomia e status de semi-divindade? Witezl. Ele largou. Só isso pra mim já basta pra desconfiar, os magistrados estão muito bem, obrigada, e não abrem mão da vida que levam assim, sendo completos desconhecidos do público, pra concorrer a uma eleição de governador. Outra parte que me leva a desconfiar é exatamente não fazer ideia de quem essa criatura é, e da sua completa inexperiência com gestão pública, afinal um magistrado não gere nada.

Todo aquele discurso barato e fácil de combate à corrupção, surfando na onda do bolsonarismo, gargalhando da placa quebrada da Marielle, fingindo que veio pra moralizar esse mundo de imundície que é a política, não é exclusividade de Wilson Witzel. Brasil a fora vimos um monte de completos despreparados ocupando cargos de executivo e legislativo em nome de uma suposta renovação, de uma política nova e diferente, feita por cidadãos de bem, mas principalmente, feita por “não políticos”.

O prefeito de Colatina (ES), que vai pra rua capinar, e por isso virou exemplo de gestor. Esse homem me liga um alerta imenso sobre o desconhecimento da população acerca do que é trabalho de prefeito, e uma necessidade imensa de ver falsa humildade, em um populismo barato, mas que gera imediata identificação.

Veja a merda que isso pode causar. Veja bem a merda!

Política é lugar de político, novo ou velho, com ou sem família política. Política não é lugar de aventureiro-bandeirante-renovador-destruidor-de-corrupção, porque isso não existe, é mentira. Não se renova política elegendo ex-juiz, policial reformado, militar da reserva, palhaço, artista decadente ou empresário famoso. Qual a formação de base essa gente tem? Curso do Lemann? A quem você acha que essas pessoas vão servir, caso eleitas? A Batata Liberal, também conhecida como Tábata Amaral, é um ótimo demonstrativo. A moça que se filiou ao PDT supostamente por admiração ao modelo de educação de Sobral (CE), agora defende reabertura de escolas no meio da pandemia que mata pessoas diarimente, em favor do mercado, assim como votou pra que nós morrêssemos trabalhando sem ver a aposentadoria chegar.

Acho Witzel e Tabata emblemáticos dessas últimas eleições. Ele, menos de dois anos depois, já está afastado por corrupção, aquela que ele disse que ia combater. Mas bem antes disso já tinha sido desmascarado, plágio nos trabalhos acadêmicos, aula pra ensinar magistrados a driblarem o teto salarial... um mar de merda. A Batata Liberal nem preciso dizer, votou contra o partido, mas junto com a entidade que deu a ela a oportunidade de estudar em Harvard. E afinal, a quem achamos que ela iria servir? Por favor né...

Essa estratégia de demonização da política eleitoral e partidária é antiga. Dentro do meu campo de estudo, a Sociologia da Religião, percebemos claramente o movimento das igrejas, especialmente as adeptas à Teologia da Prosperidade, já no início dos anos 90, elegendo pastores, evangelistas, missionários, sempre com essa história de que a política é podre, por isso os homens de deus precisam ocupar esse espaço e fazer a vontade de deus (não se sabe bem qual deus) valer nas câmaras, assembleias legislativas, prefeituras, palácios de governo. Quando as urnas eletrônicas começaram a operar no país, a Igreja Universal chegou a levar algumas pros templos pra ensinarem os fieis a votar nelas, e claro, votar nos candidatos da igreja. Eles fazem bem o papel pedagógico, não dá pra negar. Assim uma bancada inteira se formou, e está aí legislando sobre nossas vidas.

Eu abro os portais de notícia e aquela cara lavada do Luciano Huck se colocando “à disposição” do país me aparece, e eu tenho vontade de vomitar. Um homem que fez sua vida, fama e fortuna explorando a pobreza de uma forma muito peculiar. Não que isso seja novidade, lembram da “Porta de Esperança”? Luciano Huck apenas modernizou, e incluiu requintes de crueldade em sua exploração disfarçada de caridade, onde o pobre além de ter sua miséria exposta, ainda precisa se humilhar para alcançar a graça de ter um pedaço da sua vida “transformada” por tão bondoso pai de família, senhor Luciano Huck, que antes de ser pai dos filhos da Angélica foi o pai criador de Tiazinha e Feiticeira, e um grande reprodutor da objetificação feminina na televisão brasileira.

Luciano Huck não quer justiça social, porque justiça social o destruiria, acabaria com tudo que ele faz, só restaria as apresentações musicais com as coleguinhas dançando semi-nuas (por favor, não me entendam moralista, não sou, mas também não sou pedaço de carne) em um programa entediante de sábado a tarde. Aquilo que parece tão lindo, que leva as pessoas às lagrimas, histórias de superação, e sei lá mais o quê, nada mais é do que o uso indecente da miséria e tragédia alheias, dando alguma migalha de recompensa, enquanto se constrói fortuna e fama de bom moço, a ponto de esquecerem do “vai, Tiazinha”.

O lugar desse homem e de homens como ele não é na política. O lugar daquele cara da sua cidade que diz que está aí para renovar e fazer diferente, mas não tem ideia do que a política é, porque não tem formação de base, não tem ideologia, faz dos partidos legendas de aluguel, levando em conta apenas o coeficiente eleitoral, não é na política.

Não caio no papo furado dessa política ascética, limpinha, feita por quem diz que está lá pra moralizar e abandonar os velhos vícios. Não caio no papo furado tecnocrata de quem foi pra Harvard, ou pra lua e voltou, com dinheiro do Lemann ou do Huck. O político está invariavelmente em busca do poder, como diria meu amado Max Weber, e a política deve ser tratada tal como é, e não como deveria ser, como bem pontuava o incompreendido Maquiavel.

Veja bem onde toda essa história de “dar lugar a renovação” nos trouxe. Veja bem o perigo contido em um tipo de discurso que pode esconder tantas coisas, inclusive o mais completo e absoluto despreparo. Não tenho problema algum com quem vive DA política, desde que também viva PARA A política.

No mais, vou deixar papai Weber falar: “Eis-me aqui; se não posso fazer de outro modo, aqui paro (...) Na medida em que isso é válido, uma ética de fins últimos e uma ética de responsabilidade não são mais contrastes absolutos e só em uníssono constituem um homem genuíno – um homem com vocação política.”

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